04 maio 2012

AS INVERDADES DO JORNAL - Miro Nunes


Ter opinião contra as ações afirmativas voltadas para a população negra não autoriza ninguém (pessoa jurídica ou pessoa física), muito menos um(a) jornalista a, deliberadamente, distorcer fatos. Dito isso, eis o que registra o editorial veiculado na quarta-feira (25/4) nas versões impressa e online de O Globo, o principal jornal das Organizações Globo:

** No primeiro parágrafo, sétima linha, eis a palavra “raça” entre aspas remetendo a um conteúdo biológico que não é o afirmado pelo Movimento Negro, que ressalta a existência da palavra raça no sentido histórico e sociológico que ela tem.

** No quarto parágrafo, o autor do editorial manipula estudo realizado pelo IBGE em 2008, trocando a palavra preto por negro, o que inexiste nos estudos sobre relações raciais do IBGE. Negro é a soma das pessoas pretas e pardas segundo metodologia aplicada nos censos, inclusive o último de 2010, quando a maior parte da população brasileira (50,7%) se autodeclarou negra. Qualquer pessoa poderá comprovar isso visitando o site do IBGE e lendo os estudos e pesquisas ali postados. As políticas de cotas alcançam negros (pretos e pardos) e também a população nativa do país, que nos acostumamos a chamar de indígenas.

** O fato narrado no quinto parágrafo indica apenas que se há uma distorção em um ponto no conjunto de critérios de acesso por cotas da universidade de Mato Grosso, a mesma deve ser apenas corrigida sem afetar o mérito do programa de inclusão ali implantado.

Aliados incondicionais

Em jornalismo, erro em apuração é fatal e, neste caso evidente, o principal jornal das Organizações Globo deliberadamente faltou com a verdade aos seus leitores e internautas.

Por fim, não cola nesta altura da história do Brasil que tanto as Organizações Globo quanto o partido Democratas e os seus simpatizantes estejam preocupados com os “milhões de jovens brancos e pobres” e que por isso venham a aceitar “a adoção de cotas sociais”. A história deste país registra de quem (e do que) foram ambos (Organizações Globo e Democratas) aliados incondicionais e, principalmente, beneficiários. E não estão sozinhos nesta história, ou melhor, outro episódio da mesma história.

Miro Nunes é membro da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (Cojira/SJPMRJ).

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

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