19 setembro 2012

GLOBO: TODO PODER AO JORNALISMO PARA PRESERVAR O PODER - Luiz Carlos Azenha


A Globo já não faz mais presidentes, como fez em 1989.

A Globo perdeu em 2006 e 2010, quando jogou suas fichas em Geraldo Alckmin e José Serra.

Mas a emissora continua dominando o mercado publicitário, a audiência e a agenda política.

As mudanças anunciadas pela Globo, com a ascensão da cúpula do jornalismo à direção-geral significam que a Globo está preocupada, acima de tudo, em preservar seu espaço num mercado em que o público da TV aberta diminui e o das TVs por assinatura aumenta. A Globo ganha dinheiro nas duas pontas.

Hoje a emissora tem uma estrutura caríssima, que só consegue sustentar graças a seu domínio do mercado, que diminui gradativamente.

Uma das possibilidades para reduzir custos é o investimento no assim chamado infotainment, no estilo do programa de Fátima Bernardes. Os custos de um programa como o da ex-apresentadora do Jornal Nacional são relativamente baixos, se comparados aos da produção de uma novela, por exemplo.

É por isso que os “produtos jornalísticos” são atraentes: conversa custa pouco e os custos fixos estão lá mesmo, na forma de estúdios, câmeras, pessoal. Pedro Bial já tinha feito a mesma transição de Fátima, do jornalismo para o show biz.

O modelo antigo do Globo Repórter (que, pasmem, já foi feito por documentaristas!) é passado. Agora, o Profissão Repórter faz mais rápido e com custos mais baixos.

Apesar de perder audiência na TV aberta, a Globo preserva boa parte de seus telespectadores mais endinheirados no cabo, para o qual os programas jornalísticos — coberturas ao vivo, reportagens mais elaboradas, talk shows — são, como já disse, uma opção relativamente barata.

Outra vantagem de promover a cúpula do jornalismo à direção da emissora é permitir um controle editorial mais rígido, necessário à defesa dos interesses do grupo nas diversas instâncias do poder.

Lembro-me que, durante a campanha eleitoral de 2006, repentinamente o comentarista Alexandre Garcia começou a aparecer nas manhãs de Ana Maria Braga, para falar sobre a campanha. Não era nada descarado, abertamente contra este ou aquele candidato, mas sublinhava o que a Globo considerava importante no noticiário.

O que, no passado, poderia ser visto como “contaminação” do entretenimento pelas opiniões editoriais da emissora deixa de ser explicitamente necessário: a migração de jornalistas “confiáveis” para o infotainment dá conta de garantir que a voz da Globo seja ouvida para além dos telejornais.

Finalmente, não deve ter escapado aos irmãos Marinho o sucesso de Enrique Peña Nieto, eleito no México com forte apoio da Televisa. Ele representa o neoliberalismo com nova roupagem e suposta “preocupação social”, na linha do “conservadorismo com compaixão” do ex-presidente George W. Bush.

Tratamos do assunto em dois posts, aqui e aqui.

Não há nenhum motivo para acreditar que a experiência bem sucedida com Collor em 1989 não possa ser reproduzida no futuro, especialmente agora que as mídias sociais se tornaram um poderoso veículo de disseminação de conteúdo produzido pelos que já dominam o mercado. Hoje a Globo fala e os próprios internautas, de graça, trabalham para reproduzir as opiniões da emissora.

Extraído do sítio Viomundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário