26 setembro 2012

O CANDIDATO DO NOVO EM BUSCA DA TRADIÇÃO - Paulo Moreira Leite


O Ibope que aponta para uma ligeira vantagem de Fernando Haddad sobre José Serra – um ponto, dentro da margem de erro – é coerente com outros levantamentos internos, feitos pelos próprios partidos para orientar suas campanhas.

A maioria sugere um suave deslocamento de votos para Haddad, sempre dentro da margem de erro.

Não custa lembrar, porém, que há uma semana o DataFolha apontou uma vantagem de Serra por cinco pontos. Isso quer dizer que a eleição segue apertada nessa reta final do primeiro turno.

Essa situação já levou João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário geral da Força Sindical, e aliado de Haddad, a pedir que concorrentes que dividem a mesma base eleitoral, como Gabriel Chalita, do PMDB, e Paulinho do PDT, se alinhem com o candidato do PT e peçam votos para ele.

Juruna está convencido de que não há vaga assegurada para o segundo turno e que a disputa seguirá apertada até o final.

Escrevi há menos de uma semana, neste espaço, que Haddad havia entrado em seu melhor momento. http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2012/09/12/quem-teme-lula-e-marta/

Eu acho que esse quadro se mantém e o levantamento do Ibope mostra isso.

Quando perguntam ao eleitor paulistano qual sua avaliação sobre a gestão do PT na prefeitura, a resposta é: 33% avaliam como bom e ótimo. Nenhum concorrente tem esse desempenho. Nem de longe.

Os 33% de preferencia são admiráveis quando se considera a pancada permanente do mensalão.

Eu acho que população tem critérios éticos e não dá seu voto a quem considera corrupto ou mentiroso. Como todo mundo, ela separa as coisas e as pessoas.

FHC levou a reeleição de 1998 — no primeiro turno — apesar de um vídeo no qual um deputado confessava ter vendido seu voto por R$ 200 000 reais, prova que jamais apareceu no inquérito do mensalão.

A tradição do PT em São Paulo oferece a Haddad uma boa possibilidade para crescer, o que é curioso, já que ele se apresenta como o homem “do novo.” Mas o crescimento está na tradição, que, no caso do PT, fica na periferia.

Os números de quem se especializou em bater no PT nesta campanha, como Soninha, confirmam a realidade dos 33%. Conforme o Ibope, Soninha tem quatro vezes mais rejeição do que voto a favor.

Eu acho difícil separar esse desempenho de sua linha de atuação nos debates.

Mas os números mostram, também, que Haddad não tem conseguido, até agora, captar as totalidade dos votos do PT.

Por que?

Se há dois meses era razoável dizer que o candidato não era conhecido, essa avaliação perdeu a validade depois do horário político, do apoio explícito de Lula, Dilma e Marta.

Olhando em retrospecto, “nunca na história deste país” um candidato a prefeito contou com o cartão de visita de dois presidentes campeões de popularidade e de uma prefeita bem avaliada para subir. E ainda assim…

Muitos observadores parecem acreditar que todos os partidos são iguais, nenhum tem identidade própria nem referencias na vida social. Se fosse assim, uma eleição estaria resumida a uma boa ideia de publicidade e o apoio de alguns amigos na mídia.

A verdade é que desde os tempos de Luiza Erundina a politica de São Paulo assume um caráter mais claro de conflito de classe, de pobre contra rico. Os bons publicitários ajudam e é difícil negar que tenham uma função importante numa eleição de massa. Mas uma eleição é mais do que isso.

O eleitor sabe o que o PT fez e deixou de fazer. Também tem uma avaliação dos concorrentes e faz seu julgamento.

Fofocas à parte, o debate político na campanha do PT é este. Consiste em conservar o caráter do partido ou correr atrás da classe média.

O crescimento de Celso Russomano sob os botox de Marta Suplicy mostra muito bem o que aconteceu nos últimos meses. A classe média é importante mas a periferia não pode ser abandonada como se fosse voto garantido.

É uma discussão antiga entre petistas. Antes da vitória de 2002, acredite, havia quem dissesse, após as derrotas de 1989, 1994 e 1998, que Lula jamais seria eleito porque a população rejeitava a ideia de votar num candidato operário, pobre, com pouca instrução formal…

Impaciente com esse tipo de conversa, naquela época o próprio Lula chegou a oferecer – para testes — a candidatura presidencial a quem tivesse competência para ficar com seu lugar.

O crescimento de Haddad mostra uma lenta reaproximação com a história do PT. No mundo real, as diferenças de classe existem e aí os votos se definem. É aquilo que quem não tem chama de populismo. Quem tem pode chamar de povo.

Extraído do sítio Revista Época

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