28 janeiro 2013

NEGLIGÊNCIA, A MARCA DAS TRAGÉDIAS NO BRASIL - Ossami Sakamori

No caso da boate de Santa Maria (RS), mais uma vez funcionou a "camaradagem", o "jeitinho" para emitir o "alvará de conclusão e funcionamento" da edificação. Leite derramado

O Brasil está de luto com 233 mortos, no incêndio da boate Kiss em Santa Maria, RS. É doloroso ficar discutindo aqui sobre as negligências que marcam as tragédias no Brasil. Mas, é a oportunidade para eu fazê-la, porque amanhã, a tragédia, tanto quanto outras, serão esquecidas. O País inteiro voltará a comentar sobre o BBB13 da Globo, já nos próximos dias.

Minha formação é de engenheiro civil. Tenho assistido a várias tragédias anunciadas acontecerem por conta da "negligência" do poder público e da própria população. Isto mesmo. A população é conivente com as tragédias que se anunciam neste País. Estou com má vontade? Não estou, não! Já recebi reclamo de muitos patrícios meus, brasileiros, para eu voltar (sic) para o Japão, sendo eu brasileiro. Mas, vamos à dura tarefa de chamar a atenção, novamente, sobre os escombros da tragédia, sobre o pouco caso das autoridades sobre diversas situações críticas.

Vamos analisar sobre esta última triste ocorrência. Prestei atenção em cada detalhe da reportagem. Disse o Coronel bombeiro que, apesar de alvará vencido, a boate Kiss atendia aos requisitos mínimos de segurança exigido pelos Bombeiros. Digo, afirmativamente, que não. Para começar pelo uso de material de fácil combustão para o isolamento acústico no teto, o que motivou a tragédia. Ponto final. Se tinha sinalização ou mesmo extintor de incêndio (que não funcionou no primeiro momento) são detalhes menores. Infelizmente, erro do meu colega engenheiro em ter permitido a colocação do material inadequado no teto de um estabelecimento que sabidamente teria finalidade de aglomeração de pessoas.

É o tal do jeitinho brasileiro que funcionou. Desde o proprietário que sabidamente colocou em risco a sua clientela até o Corpo de Bombeiros que deveria ter desaprovado a utilização daquele material para o teto. Todo mundo pensou na hipótese de que aquela situação provocado pelos fogos de artifício nunca iria acontecer. Todo mundo pensou que não haveria hipótese de que o fogo poderia ter começado com um curto circuito de energia, muito comum de acontecer. Aqui, mais uma vez, funcionou a "camaradagem", o "jeitinho" para emitir o "alvará de conclusão e funcionamento" da edificação. Leite derramado.

As tragédias recentes de enchentes no Estado do Rio de Janeiro são exemplos clássicos de negligência do poder público, tanto municipal que não tomam atitudes, como do governo federal que não libera verbas de emergências para dar solução definitiva para evitar novas ocorrências. Pelos noticiários da TV, pode-se constatar que as casas ou casebres continuam depenturadas nas encostas de morros. Não adianta culpar o São Pedro. E as ocorrências de chuvas intensas na região serrana do Rio é comum, não podendo dizer que são imprevistas. A próxima será no próximo verão. Enquanto isso, vamos dando jeitinho, resolvendo apenas situações de extrema gravidade. Estas serão esquecidas até o próximo verão.

Outra tragédia que diz respeito à engenharia é a tragédia acontecida no morro de Bumba, no município de Niteroi. Simplesmente, as encostas eram utilizados para dar destino aos lixos colhidos pelo próprio poder público municipal. Precisou de uma tragédia com dezenas de mortos para o poder público transformar em encostas protegidas com aterro feito sobre o que restou do lixão. Infelizmente, segundo eu tenho conhecimento, deu se jeitinho, para dispensar eventual produção de gás nos lixões que ficara abaixo do novo aterro. Enfim, deu-se o jeitinho de não ficar o problema exposto diante da vista da mídia.

E assim, aos olhos do engenheiro, existem muitas e muitas situações que considero "tragédia anunciada" sobretudo em obras patrocinados pelos governos. É uma coisa de louco. Quando alguém chama atenção para os projetos mal elaborados, o denunciante é considerado persona não grata, pelos poderes constituídos. Pessoalmente, tenho experiências, vividas. Quem denuncia fica marcado como "inimigo do poder".

E assim caminha o Brasil, de jeitinho em jeitinho, esperando as novas tragédias ocasionais ou naturais, lamentando sobre os corpos da vítimas, seres humanos, brasileiros tanto quanto nós. Os lutos decretados pelos poderes públicos não servem de conforto para as pessoas que perderam os seus entes queridos. Quiçá houvesse promessa de maior rigor nas aplicações de leis para assegurar o mínimo de segurança pública para a população.

Extraído do sítio Brasil247

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