01 março 2013

BENTO XVI ENCERRA PAPADO, MAS NÃO DEIXARÁ VATICANO - Bernd Riegert


O trono papal está vazio e, quando for novamente ocupado, abrirá um capítulo raro na História da Igreja, que passará a ter dois Pontífices. Ratzinger, agora Papa Emérito, optou pela reclusão, mas em território vaticano.

Como se referir a uma pessoa que, por livre e espontânea vontade, deixou o posto de Bispo de Roma e Papa? A resposta não é fácil, afinal, teologicamente falando, ele foi apontado por Deus. Assim, mesmo após sua aposentadoria, Bento 16 ainda poderá ser chamado de Santo Pai ou Vossa Santidade, além de, como confirmou o Vaticano, manter o título de Papa Emérito.

Emérito é um título comum para outros membros da Igreja afastados de suas funções. Em sua última audiência geral, Bento 16 disse que o título de Papa fica para sempre. "Não há retorno à vida privada. A minha decisão de desistir do exercício ativo do ministério não pode ser revogada. Não vou voltar a uma vida de viagens, reuniões, recepções e conferências. Não vou abandonar a cruz, mas vou tomar um novo caminho ao lado do Senhor crucificado," afirmou.

Nome Bento permanece

Aos 85 anos, Joseph Ratzinger continuará a usar o nome Bento. Porém, seu irmão mais velho declarou em entrevista que, em seu círculo privado, pode sempre se dirigir a ele como Joseph. Mesmo dentro do clero no Vaticano, há críticas em relação a essa decisão.

"Como vai ser quando um novo papa for escolhido? Teremos um papa titular e outro, afastado, mas também intitulado papa?", questionam os críticos da decisão do Vaticano.

Celestino 5º, que renunciou há cerca de 600 anos, voltou a usar seu hábito beneditino e seu antigo nome. A Igreja já teve, ainda, que lidar com diversas situações. Em certo momento de divisões, na Idade Média, chegou a haver três papas simultaneamente.

Procissão noturna dos fiéis no Vaticano
Bento 16 era, até esta quinta-feira (28/02), o governante absoluto do Vaticano. O menor Estado do mundo é visto de acordo com as leis internacionais como uma monarquia absolutista eletiva, na qual o Papa é também chefe de Estado, do Legislativo e do Judiciário. Em outras palavras, ele pode decidir as regras de sua renúncia e o que vai acontecer depois dela. Foi ele mesmo, por exemplo, que autorizou sua aposentadoria.

Sem o sapato vermelho

O Vaticano diz que Bento 16 vai continuar usando a batina branca. Segundo o código da Igreja, a cor é trajada apenas pelo Papa. Portanto, no futuro, haverá duas pessoas usando branco no Vaticano. A diferença estará nos sapatos, já que Bento 16 não terá nos pés mais os famosos sapatos vermelhos.

De acordo com Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, o Papa passará a usar os sapatos marrons que ganhou durante uma viagem ao México. "Eles são extremamente confortáveis", disse o assessor, que explicou que Ratzinger continuará a usar o anel de ouro com o símbolo do poder papal.

Bento 16, disse Lombardi, deixará o pontifício de maneira digna e estará ligado canonicamente ao gabinete do futuro Papa.

Os famosos sapatos vermelhos do Papa
Quando na ativa, o Papa não recebia salário. E, uma vez longe do cargo, Bento 16 não terá também qualquer ajuda de custo ou aposentadoria. Ele determinou que as coisas continuem como antes, ou seja: será sustentado pela Igreja, que lhe proporciona habitação, cobre sua despesas médicas e custos das quatro feiras que cuidam de sua casa.

Além disso, o arcebispo Georg Gänswein continuará sendo seu secretário. As despesas de viagem não deverão mais ser cobertas. O Vaticano diz que o Papa quer viver no pequeno monastério Mater Ecclesiae, nos jardins do Vaticano. Dificilmente, ele deve deixar a clausura ou os portões do Vaticano. Georg Gänswein é também prefeito da Casa Pontifícia, ou seja, ele auxiliará o novo Papa na organização da sua agenda e marcará audiências. Ele funcionará como uma ligação entre o Papa em atividade e o Papa aposentado. Não está claro se os dois Pontífices vão se encontrar. O protocolo tem que ser estabelecido, já que ambos viverão no Vaticano.

Orar e escrever

Um retorno à Baviera não está nos planos de Bento 16, disse Hubert Wolf, historiador da Igreja em entrevista ao jornal Westdeutsche Allgemeine Zeitung. Ele poderia, por exemplo, viver com o irmão em Regensburg. Mas lá, diz o historiador, "ele não estaria em um santuário".

Por esse motivo, o Papa teria escolhido a reclusão no Vaticano. O historiador acredita que o Papa emérito deve passar muito tempo orando e deve também escrever. "Ele se coloca sob a autoridade de seu sucessor. Ele vai fazer o que deveria ter feito anos atrás, se aposentar e voltar a escrever livros", afirma.

Antes de Bento XVI se retirar em sua clausura no Vaticano, ele ainda vai passar um tempo na residência de verão em Castel Gandolfo, comuna pertencente ao Vaticano nos arredores de Roma. Assim ele não interfere na escolha do próximo Papa e tem seu retiro no campo.

Papa Bento XVI e Georg Gänswein em Castel Gandolfo
Os membros da Guarda Suíça e seus coloridos uniformes deixaram a segurança do Papa nesta quinta-feira e passarão a cuidar do futuro Papa. Policiais regulares olharão por Bento 16, que tecnicamente não deixou o Estado do Vaticano. Ele foi de helicóptero para Castel Gandolfo, território vaticano, depois de sua última aparição pública na Praça de São Pedro.

O Papa Bento XVI deve manter sua conta no Twitter. Ainda não é certo se ele continuará a usá-la, informou o Vaticano. Sua conta (@pontifex) tem atualmente mais de 1,6 milhão de seguidores.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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